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O Quarentão do Barão Vermelho

Texto: Fabricio Mazocco

Guto Goffi estava junto com Maurício Barros no show do Queen, em São Paulo, em 1981. Foi de lá que surgiu a ideia de criar um grupo de rock, que um pouco mais tarde ganharia o nome de Barão Vermelho. Da formação do grupo até hoje se passaram 40 anos. E Guto Goffi, o baterista e um dos compositores da banda, esteve presente nesse tempo todo, marcado por sucessos, rompimentos, renascimento e tantas outras fases. O Blog Rock 80 Brasil bateu um longo papo com Guto Goffi, que falou sobre as comemorações dos 40 anos, o começo, disco preferido e planos para o futuro. É só conferir abaixo. E vida longa ao Barão Vermelho!

Blog Rock 80 Brasil – O Barão Vermelho é uma banda que passou por transformações, mudança de vocalistas e integrantes. É uma banda que nunca morre e sempre se reinventa.
Guto – O Barão é maior que todos nós. Sempre defendi isso. Fiz um papel de guardião e consegui resistir aos problemas que apareceram, resistir a esses anos todos. O primeiro problema foi a saída do Cazuza, que teve m impacto grande na banda porque ele era um super letrista e cantor de muito carisma. Foi difícil de substituir e apostamos no Roberto Frejat, que fazia uma parceria boa com Cazuza e que conseguia defender aquelas músicas, já que ele também tinha feito. Conseguimos institucionalizar o Frejat como o cantor do Barão. E agora estamos experimentando de novo, desde 2017, com a entrada do Rodrigo Suricato, a partir do momento que o Frejat pediu para sair do grupo para se dedicar à carreira solo. Ninguém tirou o Frejat, não foi expulso, nada disso. No dia que ele falou que ia sair, eu lembro que falei para ele: “se eu quiser continuar o Barão, tudo bem para você?” Ele disse que era para eu ficar à vontade. Consegui reagrupar a turma, incluindo o Mauricio Barros para reintegrar a banda.

Blog Rock 80 Brasil – A ideia do Barão Vermelho começou com você e o Maurício.
Guto – O Barão começou em 81, após eu e o Maurício assistirmos ao show do Queen no Morumbi. A gente viu aquele grande concerto de rock e falamos: hora de montar nossa banda e escolhemos o nome Barão vermelho. Depois vieram o Dé Palmeira, o Frejat e depois o Cazuza. Essa turma inicial é muito especial, está nos nossos corações até hoje e nós vivemos os melhores momentos da nossa vida com esse quinteto. Foram anos de muita luz, prosperidade, encanto e amor.

Blog Rock 80 Brasil – Como estão sendo as comemorações dos 40 anos?
Guto – Quando começamos a pensar em comemorar essa data, pensamos em um repertório que fosse abrangente para caber nesses 40 anos. Para um grupo que já havia gravado 150 músicas, escolher 26 já era uma dificuldade numérica. Encontramos os temas acústicos, clássicos, sucessos e o blues e baladas, que são os quatro discos que vamos lançar ao longo do ano. E eles viraram especial de TV também. Quando um amigo nosso viu que criamos esses temas independentes, ele quis criar uma série para a TV. A gente tenta encaixar as músicas nesses temas, ficando claro o que íamos puxar de cada disco e de cada estilo. Essa coisa de termos a temática foi ajudando.

Blog Rock 80 Brasil – E tem os convidados.
Guto – No acústico tem o Chico César e o Samuel Rosa. Samuel contou que quando ele ouviu a música “Maior Abandonado” nas rádios, ali ele enxergou a possibilidade dele virar compositor. No bloco sucessos, temos o Frejat em “Pro Dia Nascer Feliz”. O Frejat foi o primeiro convidado: quando falamos em ter a comemoração dos 40 anos, quem seria o primeiro convidado? Roberto Frejat. Não havia dúvidas, pela quantidade de tempo que esteve na banda, pela qualidade nas composições – talvez tenha sido o compositor mais importante do grupo – e também para mostrar que não havia nenhuma rusga com ele. A Jade Beraldo é a quarta convidada, uma super cantora que participou do The Voice. Ela, que também fez o personagem da Bete Balanço no espetáculo do Cazuza, está no bloco Clássicos cantando “Por que a Gente é Assim?”.

Blog Rock 80 Brasil – Você falou do Frejat como compositor, mas depois da saída do Cazuza, abriu um espaço e você se torna compositor, sendo um dos principais da banda.
Guto – Entrei nessa parte do texto, das letras, uma parte do Barão que sempre foi muito bem resolvida. E comecei a gostar de fazer, começou a ficar uma cosia natural. No último álbum do Barão, o “Viva”, já com essa nova formação, tenho quatro músicas. Uma coisa que adoro é a parte do texto para ter conexão com esse pessoal mais jovem que ainda não chegou nesse universo do Barão. O poeta, quando tiver 70 anos, ainda pode escrever como adolescente. O poder que a poesia tem para trazer mensagens novas. A esperança, que é uma palavra forte dentro da poesia.

Blog Rock 80 Brasil – Você é a pessoa que está nesses 40 anos da banda. Que sempre esteve presente durante todo esse tempo.
Guto – O trabalho em grupo é realmente coletivo. Não consigo enxergar a volta do Barão sem a presença do Maurício e do Fernando Magalhães. O grupo é um trabalho coletivo, que é o que está acontecendo de novo, com Maurício, Fernando, Rodrigo Suricato, que entrou com todo gás. Fico feliz em enxergar isso. Todos estão remando na mesma direção. É de verdade nossa volta.

Blog Rock 80 Brasil – Qual seu álbum favorito e canção favorita nessa trajetória de 40 anos?
Guto – Levei 40 anos para descobrir que o primeiro disco é meu álbum favorito, é o disco que amo, uma ingenuidade, que é a força daquele disco. Gravamos de uma forma ingênua, mas abrindo caminhos. “Pro Dia Nascer Feliz” é a minha canção favorita, o caminho que a íamos trilhar. Nessa letra tem muito da geração 80. Lembro do dia que o Frejat, na casa do Cazuza, falou que ia tocar a música que ele e o Cazuza tinham feito e tocou “Pro Dia Nascer Feliz”. Eu disse: “que música linda”. Era o Barão chegando com o pé na porta.

Blog Rock 80 Brasil – Particularmente, gosto muito do “Carnaval”. Vejo como uma ruptura com a primeira fase da banda e afirmação da importância do grupo no rock brasileiro.
Guto – Esse é um disco que eu considero muito meu, estava muito presente. A sugestão do título foi minha e eu estava em uma época da minha vida em que eu vivia um carnaval diário. Eu fui muito contundente quando falei para o Dé e o Frejat que a gente estava em um momento de ruptura. A gente tinha feito o “Declare Guerra”, o “Rock’N Geral”, que é um disco pop em uma época que o país todo queria ser rock; e aí no “Carnaval” falei: “vamos fazer um disco parta arrebentar a porta”. Eu estava começando a escrever, mas tem letras interessantes, como a “Selvagem”.

Blog Rock 80 Brasil – E qual o novo horizonte do Barão, planos futuros?
Guto – Nós estamos satisfeitos com essa formação, com a química que está dando, com os produtos que estamos fazendo. E o próximo passo já está sendo estudado: um trabalho novo, com músicas novas. Não tem como antecipar muito, mas já existe a vontade de estarmos juntos para prepararmos esse álbum. Tem um estúdio perto da minha casa, onde o Barão tem ensaiado muito. Em breve estaremos ali para preparar o material novo, para dar sequência a essa formação. Acho que estamos indo muito bem.

Fabricio Mazocco é jornalista, doutor em Ciência Política, professor universitário, fã de rock e criador do blog Rock 80 Brasil.