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Todas as cores de Ciro Pessoa

Quem é Ciro Pessoa? Membro fundador dos Titãs e do Cabine C e autor de diversos hits do rock brasileiro como “Sonífera Ilha”, “Homem Primata”, “Inundação de Amor”, entre tantos outros clássicos. Infelizmente Ciro nos deixou no dia 5 de maio deste ano, vítima da Covid-19. Mas antes de ir, deixou material um filme e um álbum para sempre lembrarmos quem foi Ciro Pessoa.

Dirigido por Wladimir Cruz e projeto mais recente da Blue Screen Of Death Filmes, o longa-metragem de 120 minutos “Quem é Ciro Pessoa?” explora em linguagem documental e surrealista toda a trajetória do artista, por meio de depoimentos de familiares, amigos como a atriz Grace Gianoukas, parceiros musicais como Branco Mello, músicos como Fê Lemos (Capital Inicial), e do próprio Ciro, que sem fugir de pautas sensíveis revela ao público quem é a figura por trás dos refrãos ou das polêmicas que marcaram sua passagem por esses lados.

Capa do single “Toda Cor”

Para o filme, Ciro gravou junto com a banda Flying Chair a trilha sonora “Quem é Ciro Pessoa?”, que já está disponível nas plataformas digitais. “Toda Cor”, composta por Ciro Pessoa, Marcelo Fromer e Carlos Barmack no início dos anos 80 e que se transformou num hit dos Titãs, foi o primeiro single lançado deste trabalho. Nesta música, Ciro divide os vocais com o amigo Fernando Ceah, da banda Vento Motivo.

Ciro Pessoa nos Titãs

O blog Rock 80 Brasil conversou com Wladimir Cruz e Fernando Ceah, para sabermos um pouco mais quem foi e quem sempre será Ciro Pessoa.

Rock 80 Brasil: Como surgiu a ideia do documentário?
Wladimir Cruz: Conheci o Ciro pessoalmente quando o entrevistei em 2015 para o documentário sobre o Madame Satã, o “Uma Nova Onda De Liberdade”. Nos adicionamos em redes sociais e seguimos nossos caminhos com breves likes aqui e acolá. No finalzinho de 2018 o Ciro me mandou uma mensagem e me chamou para uma conversa. Contou que estava doente e ofereceu a possibilidade de eu fazer um registro sobre seu trabalho. Segundo ele, vinha acompanhando meu trabalho desde que nos adicionamos e queria que seu registro fosse feito a meus moldes, da minha forma de trabalhar – independente, prático e direto. A partir desse papo começamos a colocar em prática a ideia toda.

Rock 80 Brasil: Qual foi o envolvimento do Ciro na realização do filme?
Wladimir Cruz: Ele me deixou totalmente livre para fazer o que eu quisesse, e foi topando todas as loucuras visuais propostas, entre elas o fato que no projeto original gravaríamos um disco com faixas de toda sua carreira – suas preferidas – para servir de trilha sonora do filme, e que este fosse uma peça audiovisual que acompanhasse o álbum, algo como o mito entre o Mágico de Oz / Dark Side Of The Moon do Pink Floyd, inclusive com a banda tocando ao vivo tal trilha. Infelizmente os planos mudaram, mas no final das contas o disco e filme ainda se conversam plenamente.

Rock 80 Brasil: É um documentário biográfico?
Wladimir Cruz: Sim, é uma biografia musical. Falamos sobre a obra artística do Ciro. Questões pessoais não são o foco. Queremos mostrar quem é Ciro pessoa-jurídica. Ciro pessoa-física não é meu lance.

Rock 80 Brasil: A morte do Ciro mudou algo na edição final, no roteiro?
Wladimir Cruz: Sim, como falei o projeto mudou, e no filme também. Incluímos sua partida na narrativa, mas não regravamos nada, o que vale é o recorte daquele momento – onde infelizmente ele também já tinha muita consciência de sua possível partida e fala sobre isso no filme.

Rock 80 Brasil: Qual a previsão de lançamento e em quais plataformas poderá ser conferido?
Wladimir Cruz: Estamos fazendo sem pressa. É um documento muito forte e que deve ser olhado com carinho. Estamos com uma estrutura pronta, mas resolvemos dar mais uma pesquisada, adicionar mais algumas coisas para que o material final faça justiça ao proposto. Enquanto damos esses retoques e moldamos o bruto, o disco já está disponível digitalmente dando uma ideia até mesmo da cronologia por onde caminhamos no filme.

Ciro Pessoa no Cabine C

Rock 80 Brasil: Como foi o convite para participar e organizar da trilha sonora do projeto?
Fernando Ceah: Desde que conheci o Ciro ficamos muito próximos. Já era fã. O primeiro álbum da Flying Chair foi gravado nos estúdios do nosso selo, Curumim Records. Nesse disco ele me convidou para cantar com ele a música “Nosso Amor Exposto”, fizemos shows e realizamos projetos juntos. Quando ele foi convidado a gravar um disco com músicas emblemáticas do seu repertório para ser trilha sonora de um filme, ele me presenteou com o convite para dividir os vocais em “Toda Cor”. Fiquei feliz e honrado! No meio do processo todo, a saúde do Ciro foi se agravando rapidamente, e os amigos mais próximos acompanharam tudo de perto. Infelizmente ele não teve tempo de ver o projeto concluído. E sabendo da urgência que ele tinha para terminar tudo, e do quanto estava empolgado, me mobilizei e mobilizei outros amigos para terminar esse trabalho, da forma como ele queria, como uma homenagem.

Rock 80 Brasil: O quanto Ciro pessoa te inspirou musicalmente?
Fernando Ceah: Muito! Fui muito influenciado pelo Rock Brasileiro dos anos 80, e o Ciro é um expoente dessa época, compositor de hits clássicos, membro fundador dos Titãs. Depois que o conheci pessoalmente continuou influenciando, na forma de se construir belíssimas canções pop, com refrões marcantes.

Fabricio Mazocco é jornalista, doutor em Ciência Política, professor universitário, fã de rock e criador do blog Rock 80 Brasil.