
“A Gang Ataca – Louco Amor faz a fama de um novo grupo
Nos idos da Jovem Guarda, Júlio e Denise Barroso, dois irmãos cariocas da Lapa, sonhavam em formar o que chamavam de “um conjuntinho”. Hoje, quinze anos depois, o conjuntinho existe – e pode ser ouvido religiosamente, nas noites de segunda a sábado, em todo o território nacional. Louco Amor, de Júlio Barroso e Herman Torres, conseguiu ocupar o posto mais cobiçado do marketing da música popular brasileira – virou tema da novela das oito na Rede Globo. E hoje possibilita a seus intérpretes, a Gang 90 & Absurdettes, sonhar cada vez mais alto e mais longe. O compacto Louco Amor se aproxima do Disco de Ouro (cem mil cópias). E o LP de estréia do grupo, Essa Tal de Gang 90, já saiu do ostracismo underground para conquistar audiências mais amplas.A aventura começou, na prática, em fins de 1980. Júlio Barroso, o mentor e principal letrista da Gang, voltou neste ano de Nova York deslumbrado com o nascente movimento new wave, florescente em casas noturnas como o Mud Club e o C.B.G.B. ‘Eu estava, como estou até hoje, com os pés no Brasil e a cabeça no mundo’, afirma Júlio. ‘Tinha certeza de que era possível unir o novo tipo de rock que estava nascendo com a música feita no Brasil.’ Júlio tinha também outra certeza: a de que música não precisa ser feita necessariamente por músicos, mas, antes, por gente que goste muito de música. Baseado nessa tese, defendida entre outros pelos compositores de vanguarda John Cage e Brian Eno (líder do grupo pop Roxy Music), Júlio foi à luta e descobriu seu time numa antiga casa de rock de São Paulo, a Paulicéia Desvairada.
O nome do grupo é uma variação sobre uma velha gíria, ‘pedra 90’, que designa coisas boas e agradáveis. O previsto, inicialmente, era uma única apresentação no Paulicéia, com Perdidos na Selva, cujo arranjo ficou a cargo do amigo Guilherme Arantes. A reação foi boa, e o vírus do palco se apoderou da Gang. Continuaram compondo e ensaiando, e em fins de 1981 estrelaram durante quinze dias um show no Lira Paulistana – espécie de Meca por onde passam todos os grupos independentes de São Paulo. A apresentação incluía um vídeo-show em dez monitores espalhados pelo teatro. Em seguida, foi a vez do Rio – dois fins de semana no Morro da Urca, que acabaram atraindo a atenção de ‘olheiros’ da RCA. Veio o contrato, o primeiro LP (Essa Tal de Gang 90 & Absurdettes) e a novela.
Hoje, além de Louco Amor, outras músicas do LP começam a tocar insistentemente nas rádios – como Telefone, que resume a linha descaradamente romântica do grupo.
Muita gente já pertenceu à Gang: Willian Forghieri e Antônio Pedro (da Blitz), Wander Tasso, Willie e Lee Marcucci (Rádio Taxi), Tavinho Fialho (o baixista de Arrigo Barnabé), o baterista Gigante Brasil, a vocalista Alice Pink Punk. Hoje, o time fixo das Absurdettes inclui May East (Maria Elisa Capparelli Pinheiro, paulistana, 27 anos, a “primeira vídeo-jóquei do Brasil”), Lonita Renaux (Denise Maria Barroso Chaves de Souza, carioca, 27 anos) e Taciana Barros (18 anos, santista, pianista clássica). Herman Torres, alagoano de 29 anos, é o encarregado de dar o embasamento musical do grupo. Com um LP solo já gravado pela Polygram, Torres tem músicas suas gravadas por Fagner, Amelinha, Ney Matogrosso, Vital Farias, Rosa Maria e Zizi Possi (um de seus maiores sucessos Caminhos de Sol).
O cérebro da Gang, porém, continua sendo Júlio Barroso, 29 anos, jornalista free-lancer, poeta, cantor, discotecário e radialista. Ele encara o sucesso de hoje como parte de um movimento mais amplo – o New Brega – por ele lançado e cujo objetivo é reciclar a “cafonália romântica descarada” que preenche a programação das rádios AM misturada com os elementos eletrônicos da música pop mais contemporânea. Sem abandonar a Gang, Barroso está montando um outro grupo, o Brazil, para espalhar o new brega pelo país afora. ‘Quero ver minhas músicas embalando prostitutas de beira de estrada no interior do Maranhão”, diz ele’.“