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RockDisco – Essa tal de Gang 90 & As Absurdettes

Se a Blitz foi a banda a fazer um “primeiro” gol na história do Rock 80 Brasil, a Gang 90 & As Absurdettes foi uma das que colocou a bola em jogo. Criada pelo jornalista e DJ Júlio Barroso, as canções misturavam new wave, beatnik, tudo isso com pintadas de B-52. O grupo, chamada na época apenas de Absurdettes, participou do Festival MPB Shell em 1981 com a música “Perdidos na selva”. Esta música foi lançada em um compacto junto com a  “Lilik Lamê”. Em 1983 o grupo gravou seu primeiro álbum, que emplacou vários sucessos entre eles “Nosso louco amor”, que foi tema de novela da TV Globo. Também participaram do especila “Plunct Plact Zum”, da TV Globo. Júlio Barroso faleceu em 1984, mas o grupo continuou e lançou outros discos. Veja abaixo uma matéria sobre o disco publicada na revista Revista Veja de 24/08/1983 e que está disponível no blog Sete Doses

A Gang Ataca – Louco Amor faz a fama de um novo grupo

Nos idos da Jovem Guarda, Júlio e Denise Barroso, dois irmãos cariocas da Lapa, sonhavam em formar o que chamavam de “um conjuntinho”. Hoje, quinze anos depois, o conjuntinho existe – e pode ser ouvido religiosamente, nas noites de segunda a sábado, em todo o território nacional. Louco Amor, de Júlio Barroso e Herman Torres, conseguiu ocupar o posto mais cobiçado do marketing da música popular brasileira – virou tema da novela das oito na Rede Globo. E hoje possibilita a seus intérpretes, a Gang 90 & Absurdettes, sonhar cada vez mais alto e mais longe. O compacto Louco Amor se aproxima do Disco de Ouro (cem mil cópias). E o LP de estréia do grupo, Essa Tal de Gang 90, já saiu do ostracismo underground para conquistar audiências mais amplas.A aventura começou, na prática, em fins de 1980. Júlio Barroso, o mentor e principal letrista da Gang, voltou neste ano de Nova York deslumbrado com o nascente movimento new wave, florescente em casas noturnas como o Mud Club e o C.B.G.B. ‘Eu estava, como estou até hoje, com os pés no Brasil e a cabeça no mundo’, afirma Júlio. ‘Tinha certeza de que era possível unir o novo tipo de rock que estava nascendo com a música feita no Brasil.’ Júlio tinha também outra certeza: a de que música não precisa ser feita necessariamente por músicos, mas, antes, por gente que goste muito de música. Baseado nessa tese, defendida entre outros pelos compositores de vanguarda John Cage e Brian Eno (líder do grupo pop Roxy Music), Júlio foi à luta e descobriu seu time numa antiga casa de rock de São Paulo, a Paulicéia Desvairada.
O nome do grupo é uma variação sobre uma velha gíria, ‘pedra 90’, que designa coisas boas e agradáveis. O previsto, inicialmente, era uma única apresentação no Paulicéia, com Perdidos na Selva, cujo arranjo ficou a cargo do amigo Guilherme Arantes. A reação foi boa, e o vírus do palco se apoderou da Gang. Continuaram compondo e ensaiando, e em fins de 1981 estrelaram durante quinze dias um show no Lira Paulistana – espécie de Meca por onde passam todos os grupos independentes de São Paulo. A apresentação incluía um vídeo-show em dez monitores espalhados pelo teatro. Em seguida, foi a vez do Rio – dois fins de semana no Morro da Urca, que acabaram atraindo a atenção de ‘olheiros’ da RCA. Veio o contrato, o primeiro LP (Essa Tal de Gang 90 & Absurdettes) e a novela.
Hoje, além de Louco Amor, outras músicas do LP começam a tocar insistentemente nas rádios – como Telefone, que resume a linha descaradamente romântica do grupo.
Muita gente já pertenceu à Gang: Willian Forghieri e Antônio Pedro (da Blitz), Wander Tasso, Willie e Lee Marcucci (Rádio Taxi), Tavinho Fialho (o baixista de Arrigo Barnabé), o baterista Gigante Brasil, a vocalista Alice Pink Punk. Hoje, o time fixo das Absurdettes inclui May East (Maria Elisa Capparelli Pinheiro, paulistana, 27 anos, a “primeira vídeo-jóquei do Brasil”), Lonita Renaux (Denise Maria Barroso Chaves de Souza, carioca, 27 anos) e Taciana Barros (18 anos, santista, pianista clássica). Herman Torres, alagoano de 29 anos, é o encarregado de dar o embasamento musical do grupo. Com um LP solo já gravado pela Polygram, Torres tem músicas suas gravadas por Fagner, Amelinha, Ney Matogrosso, Vital Farias, Rosa Maria e Zizi Possi (um de seus maiores sucessos Caminhos de Sol).
O cérebro da Gang, porém, continua sendo Júlio Barroso, 29 anos, jornalista free-lancer, poeta, cantor, discotecário e radialista. Ele encara o sucesso de hoje como parte de um movimento mais amplo – o New Brega – por ele lançado e cujo objetivo é reciclar a “cafonália romântica descarada” que preenche a programação das rádios AM misturada com os elementos eletrônicos da música pop mais contemporânea. Sem abandonar a Gang, Barroso está montando um outro grupo, o Brazil, para espalhar o new brega pelo país afora. ‘Quero ver minhas músicas embalando prostitutas de beira de estrada no interior do Maranhão”, diz ele’.

Fabricio Mazocco é jornalista, doutor em Ciência Política, professor universitário, fã de rock e criador do blog Rock 80 Brasil.