/NdN translúcido em PoA

NdN translúcido em PoA

Texto e fotos: Ellen Visitário – especial para o Rock 80 Brasil

Nenhum de Nós apresentou, no último sábado (5), a turnê “Translúcido” pela primeira vez no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre. Com capacidade para mais de três mil pessoas, a casa de shows localizada no Parque Farroupilha recebeu a banda para uma única apresentação ao vivo da nova turnê, “Translúcido”.

A abertura ficou por conta das canções “Santa Felicidade” e “Milagre”. Em seguida, Thedy Corrêa relembrou a temporada de apresentações que o grupo costumava fazer no Theatro São Pedro, considerado um marco na carreira da banda gaúcha — um ciclo que, inevitavelmente, precisou chegar ao fim.

“A gente é essa banda translúcida porque deixa tudo à disposição de vocês: os nossos sentimentos, as nossas dores, as coisas que aconteceram [nos últimos tempos]. E a gente foi obrigado a encerrar esse ciclo porque não fazia mais sentido continuar sem o nosso amigo João Vicenti”, declarou Thedy, emocionado.

Entre uma música e outra, era impossível não perceber a ausência de um dos grandes gaiteiros e tecladistas que integrou a banda por 30 anos. O próprio Thedy comentou sobre a pressão externa para “substituir um músico por outro”, mas reforçou que é impossível substituir um irmão. Sua fala foi aplaudida e ovacionada pelo público.

A plateia reunia diferentes gerações de fãs. E, mesmo com a exigência de que todos permanecessem sentados em seus lugares durante o espetáculo, foi impossível conter a euforia quando o grupo emplacou hits como “Eu Caminhava”, “Você Vai Lembrar de Mim”, “Vou Deixar que Você se Vá” e um medley com “Sonífera Ilha”, dos Titãs.

Aliás, essa é uma marca registrada do Nenhum de Nós: homenagear outros artistas durante suas apresentações. A banda mostrou que é, sim, possível tocar Raul Seixas sem gerar polêmicas nas redes sociais — “Gita” foi uma das faixas escolhidas. E outra selecionada foi “Um Girassol da Cor de Seu Cabelo”, de Lô Borges e Milton Nascimento.

A noite de homenagens não parou por aí. “Telhados de Paris”, de Nei Lisboa, também integrou o repertório — música gravada originalmente no sétimo disco do grupo, Paz & Amor (1998), e regravada quatorze anos depois no álbum Nenhum de Nós Outros.

Outro momento bonito e singelo foi a exibição, no telão, de imagens de João Vicenti registradas pelo fotógrafo Claudio Veríssimo, em Caxias do Sul (RS), durante as gravações do disco Sempre é Hoje (2015). Todos os integrantes, assim como o público, assistiram atentamente às cenas em preto e branco, nas quais João demonstrava sua autenticidade e alegria. Foi então que Thedy anunciou a próxima canção da noite: “A Minha Casa”, inédita, gravada por João antes de sua partida.

As mais de duas horas de show também trouxeram lados B do repertório, como a faixa “Luzia”. E, por fim, a despedida do grupo — formado também por Veco Marques, Carlos Stein, Sady Homrich e o Estevão Camargo — veio com as inconfundíveis “Camila”, “Paz & Amor” e “Astronauta de Mármore”.

Fabricio Mazocco é jornalista, doutor em Ciência Política, professor universitário, fã de rock e criador do blog Rock 80 Brasil.