Fabricio Mazocco
João Barone não é só um dos maiores bateristas do Brasil, integrante de uma das maiores bandas do rock brasileiro. Ele também é escritor. Já falou sobre a Segunda Guerra Mundial, mas agora está lançando a obra “1,2,3,4! Contando o tempo com Os Paralamas do Sucesso” (Editora Máquina de Livros). Em entrevista exclusiva ao Rock 80 Brasil, João Barone deixou bem claro: não é uma biografia da banda e sim a história de sua vivência com a música, desde pequeno e, é claro, com Os Paralamas do Sucesso. Confira abaixo a entrevista completa:
Rock 80 Brasil – Quando e porque a ideia de escrever um livro sobre os Paralamas?
João Barone – O livro não é sobre a banda exclusivamente e, claro, que uma hora os Paralamas entram na minha vida de forma definitiva. A ideia é contar minha experiência da música que eu lembro dos primeiros tempos dentro da minha família. A música sempre esteve presente. Eu tinha o sonho de querer ser músico e isso foi acontecendo de forma paulatina, de forma ingênua, de aprender tocar bateria sem ter bateria. Contar essa história pregressa antes dos Paralamas e uma hora a banda entra de uma forma muito contundente na minha história com a música.
Rock 80 Brasil – Não é uma biografia da banda?
João Barone – Desde sempre a ideia do livro não é ser uma biografia, não é uma biografia dos Paralamas. A ideia é contar a minha história com a música, minha descoberta da música e num momento os Paralamas passam a fazer parte dessa vivência com a música. A ideia é contar de forma leve, como se fosse uma crônica, desenvolvendo a música da minha realidade, da minha vivência, das muitas onerações que eu fui fazendo ao longo desse tempo todo.
Rock 80 Brasil – Pra você, o que é música?
João Barone – Eu sempre falo que a música é uma experiência coletiva, principalmente nessa época que tinha a ideia de formar banda. Hoje, a música se individualizou muito. Não digo que é ruim, mas hoje é outro parâmetro. As pessoas têm mais facilidade de obter instrumentos e a realidade é outra. A realidade das bandas do anos 80 era outra. As pessoas se reuniam, agrupavam-se para fazer um coletivo musical. Veja os Titãs, os Engenheiros do Hawaii, o Barão Vermelho… era tudo uma patota de gente buscando semelhanças e coisas em comum, e é isso que vou contando no livro.
Rock 80 Brasil – O método então foi a lembrança?!
João Barone – Sim. Não é algo documental, são coisas que vou me lembrando. Explico que são lembranças e não necessariamente fatos científicos e documentais sobre a banda. Minhas experiências, minhas descobertas, minha convivência com a música e que 99% dessa convivência passou a ser com os Paralamas. É claro que eles têm uma parte marcante no livro desde 1981, quando a gente se conheceu até hoje.
Rock 80 Brasil – Já tinha essa ideia antes de escrever um livro sobre isso? Como saber o momento certo?
João Barone – A ideia do livro foi se consolidando com o tempo. Eu resolvi aproveitar um pouco da experiência pregressa que eu tinha escrevendo sobre meu interesse sobre a Segunda Guerra Mundial. Não sou historiador, nunca fui. Sou apenas entusiasta da segunda guerra porque meu pai foi combatente. A ideia de escrever sobre música foi surgindo de forma tranquila, descomprometida e fui sujeitando algumas coisas que ia escrevendo a pessoas que foram lendo e deram força pra continuar. Eu faço os devidos agradecimentos a essas pessoas no livro. Conto um pouco mais de detalhes dessa experiência de saber se eu estava indo para o lugar certo e fiquei muito empolgado.
Rock 80 Brasil – Quanto tempo levou a escrita?
João Barone – Eu comecei a escrever o livro muito antes da pandemia, mas durante ela o livro foi se consolidando mais, realizando o que eu tinha feito, escrever coisas melhores e mais aprofundadas. Então foi uma experiência bem leve, uma tentativa de fazer uma crônica dessa minha vivência com a música. Fui juntando isso ao longo dos anos e então é resultado de no mínimo 5 anos, 6 anos, refinando o que estava sendo escrito e tentando dar essa ótica bem pessoal.
Rock 80 Brasil – Fazer parte da própria história que conta, ajuda ou atrapalha?
João Barone – Eu sou protagonista desta história. A minha vivência está toda aí. Eu parei a narrativa logo depois do acidente do Herbert Vianna, em 2001, porque já estava com 400 páginas e ia ficar muito grande até chegar nos dias de hoje. Levo fé que o resultado deste livro me emocione o suficiente para poder falar dos últimos 20 anos de vivência com a música, pois tenho muita coisa pra falar. Falta eu me animar e arregaçar as mangas para falar desses últimos 20 anos.
Rock 80 Brasil – Quais foram os maiores desafios na escrita?
João Barone – A minha experiência dos meus três livros da Segunda Guerra Mundial tinha uma abordagem mais focada em uma pesquisa histórica com meu grande interesse pelo tema e a tentativa de promover a nossa participação do Brasil nesta guerra que é pouco conhecida e que merecia um espaço mais respeitoso na nossa própria história. A nossa participação na luta contra o nazifacismo, pelo mundo livre, pela democracia, merecia ser mais bem colocada na nossa história. Agora estou falando de uma forma pessoal dessa minha aventura incrível com a música. Não é uma biografia dos Paralamas. Tem um monte de fatos que diz respeito com a nossa vivência com a banda, daquele momento da história do Brasil que estava passando com a abertura política, o que significou pra nossa geração chegar nessa liberdade anunciada por gerações passadas depois da ditadura, daquele momento polarizado que a gente vivenciou. É uma narrativa da minha vivência com a música e como a gente descobriu com aquele mundo, de arriscar uma vida com a música.
Rock 80 Brasil – Havia um certo preconceito em ser músico.
João Barone – Ser músico era um negócio que não passava pela cabeça nos nossos pais. Ter filho músico era uma coisa inconcebível. Tinha que ir pra universidade e se formar. A gente estava naquele idealismo de tentar alguma coisa e naquele momento estávamos testemunhando com as bandas novas surgindo. E a possibilidade de fazer alguma coisa com a música tinha uma dose de realismo e romantismo que a gente estava vivendo ali.
Rock 80 Brasil – O livro tem o prefácio do José Emilio Rondeau.
João Barone – Fiquei feliz porque acertei em cheio ao convidar o Rondeau, com quem a gente teve pequena convivência no começo. Ele era produtor, jornalista, depois virou diretor de TV e foi um cara que foi requisitado para ajudar a gravar o primeiro disco da Legião Urbana. O José Emilio aceitou o convite pra escrever o prefácio. Ele leu o conteúdo do livro, gostou muito e aceitou o desafio de escrever e curtiu muito. E eu fiquei muito feliz que ele entendeu o conteúdo do livro. Ele me falou que ali eu estava escrevendo três histórias: a minha história pessoal, a história do Brasil e a história do rock brasileiro. Fiquei feliz dele ter percebido isso.
Rock 80 Brasil – Como foi “selecionar” o que ia entrar ou não?
João Barone – O livro é uma narrativa pessoal e nessas 400 páginas não deu pra falar dos últimos 20 anos da banda. Eu tentei nessa narrativa contar coisas que eu lembrava, sem fazer resgate de pesquisa histórica, coisas que estavam na minha cabeça. Eu acredito que não tenha conseguido colocar tudo, mas tem muita coisa legal. Isso que o José Emilio falou de ser o retrato de uma época, uma história da nossa vivência no Brasil, então isso tem um sentido de contar essa história de uma maneira.
Rock 80 Brasil – Como será o lançamento?
João Barone – Agradeço muito à editora Máquina de Livros por aceitar esse desafio. O pré-lançamento foi uma grande surpresa de venda e a gente vai continuar fazer um trabalho de divulgação legal. No dia 20 de agosto vai ter o lançamento na Livraria da Travessa, no Shopping Leblon, no Rio de Janeiro. A minha agenda com os Paralamas vai permitir eventuais eventos de tardes de autógrafos em cidades onde vou tocar. É só o pessoal ficar ligado no Instagram dos Paralamas (@osparalamas), no meu (@jao.barone_oficial) e no da editora (@maquina.de.livros).