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O silêncio das teclas do rock brasileiro

Texto e foto: Fabricio Mazocco

Uma banda de rock se concretizou no imaginário popular com a imagem dos pratos múltiplos e reluzentes tocados por baquetas sangrando os calos dos bateristas; a quase sempre tímida presença do som grave do baixo, zelando pela “cozinha” do som; o agudo e relâmpago tinir das cordas da guitarra, acompanhado por uma performance quase sempre exagerada e necessária; e, por fim, os gritos estridentes de uma voz, cujo dono se permite conduzir uma massa enlouquecida. Essa cena de palco e de som de rock, fora da imaginação, se perde sem um maestro, na maioria das vezes, representada por um tecladista. E se queremos personalizar essa figura, podemos falar que Luiz Schiavon atende a todos os requisitos necessários.

Luiz Schiavon não foi mais um jovem que ama música e sonhava ter uma banda de rock. Schiavon foi o jovem que sonhou levar sua música para uma multidão e conseguiu. Junto com Paulo Ricardo fundou o RPM, a banda que mais viveu a onda “beatlemaníaca” (claro, em suas devidas proporções) no solo brasileiro. Histeria, loucuras, idolatria e muito mais, tudo isso o RPM viveu como ninguém.

Tanto no primeiro disco, o “Revoluções Por Minutos”, lançado em maio de 1985, como no “Rádio Pirata Ao Vivo”, de 1986, são os teclados de Schiavon que dão a plasticidade da banda. São eles que, naquele momento, diferenciam o RPM das demais bandas do Rock Brasileiro. Quem não conhece os riffs marcantes do teclado em canções como “Rádio Pirata”, “Olhar 43”, “Estação do Inferno”, “Juvenila”, para citar algumas?!

E a versão de “London, London”, então?! Ney Matogrosso estava produzindo o show do grupo, que rodou o Brasil todo. Todas as canções do primeiro álbum do grupo estavam lá, mas Ney sentia que havia um buraco no show a ser preenchido com uma canção pequena, acústica e melodiosa, com piano e voz, para dar um respiro no show. Teria que ser algo da MPB. Surgiram algumas sugestões: “Conversando no bar” ou “Saudade dos aviões da Panair”, de Milton Nascimento e Fernando Brant. Com uma melodia difícil, não ficou bom. Foi então que Paulo Ricardo sugeriu a “London, London”. Sugestão aceita. Todos foram embora. Schiavon passou o tempo criando uma introdução que desse a magnitude que a canção merecia. No dia seguinte, Schiavon chegou, foi ao piano e tocou a introdução que havia feito na noite passada e que nunca mais ninguém esqueceu.

O Brasil perde um dos seus maiores músicos. Será difícil esquecer a imagem da ilha de teclados cercando Schiavon por todos os lados. Assim, lembraremos dele, cercado por música por todos os lados.

Fabricio Mazocco é jornalista, doutor em Ciência Política, professor universitário, fã de rock e criador do blog Rock 80 Brasil.