A casa de show localizada na Av. Paulista, coração de São Paulo, recebeu Humberto Gessinger para um show acústico na última segunda-feira, 27

“O que nos dá coragem não é o mar nem o abismo. É a margem, o limite e sua negação…”

Um show numa segunda-feira na maior locomotiva do país era uma indagação. Confesso a você que estranhei a data quando eu soube por meio da agenda oficial do Humberto Gessinger que 27 de março marcaria o seu retorno à capital paulista. Mas, embora a data seja considerada “atípica”, a bilheteria do Blue Note SP já não tinha ingressos disponíveis há três semanas da apresentação.

O lugar que evidenciava um ambiente de jazz, com tapetes no palco – além de um piano de cauda -, quadros de personalidades da música e da arte espalhados pelo salão e mesas compostas por seis lugares para o público se acomodar, abriu duas sessões para formação do trio acústico: Humberto Gessinger no violão, viola e gaita de boca, Nando Peters no baixo e na “craviola” e o Paulinho Goulart no acordeon-gaita-sanfona.

“Vai chegar a hora, e quando chega a hora é mais legal…”

A seleção das faixas foi outro ponto que surpreendeu os fãs durante o show. Gessinger cantou músicas do lado B que há muito tempo eu não ouvia ao vivo e a cores, como “Novos Horizontes”; “A Montanha”; “Realidade Virtual” – que segundo o HG, a letra trazia sua experiência de ter vivido em um bairro da cidade carioca -, “Vertical” e “Seguir Viagem”.

“Essa noite vamos tocar algumas músicas que nós não tocamos sempre, mas, espero que vocês gostem” – Destacou Gessinger.

Engraçado como a naturalidade do som dos instrumentos, dos arranjos colocados, da sintonia entre o trio sobressaía nas duas distintas apresentações de aproximadamente 1h30min. Detalho, por exemplo, a sonoridade de Paulinho Goulart no acordeon quando ele começou a introdução de “A Perigo”. Vê-lo tocar parecia que o instrumento era uma extensão do seu próprio corpo.

Nando Peters já teve a oportunidade de dividir algumas turnês ao lado de Humberto Gessinger nesses dez anos de carreira solo. Graças ao seu talento, “Nuvem” ganhou outra roupagem logo na abertura. Particularmente demorei para reconhecer a música que Nando destrinchava em seu contrabaixo acústico. Era como se o invisível nos saltasse aos olhos.

Humberto também trouxe na sua bagagem a novidade da gravação do seu novo disco, que sairá no segundo semestre deste ano. Segundo o músico, o álbum contará com três músicas inéditas com o trio acústico, assim como com o power trio (Felipe Rotta e Rafael Bisogno); outras duas canções com um quarteto – eu também estou curiosa para saber quem são os integrantes -; além de duas no formato solo; e uma regravação de Bebeto Alves.

A cereja do bolo que o Gessinger desfrutou durante o show foi “A Noite Inteira”, que também estará no seu álbum de inéditas. De acordo com o porto-alegrense, esta letra foi feita ainda em 1989/1990 e fazia parte da demo do que viria ser o álbum “O Papa é Pop”, mas ele sentiu, à época, que não seria o momento adequado para lançá-la.

Diferentemente da primeira sessão, o músico emplacou a singela “3×4” e, no final, “Banco” na segunda parte do show. E entre as canções que fazem parte da trajetória atual do Humberto, com os Engenheiros do Hawaii e/ou com o duo Pouca Vogal, coube na sua setlist ainda uma versão de “Pigs On The Wing (Part One)” do Pink Floyd.

Para quem havia interpretado que um show numa segunda-feira em São Paulo seria ameno, Humberto Gessinger provou com total maestria a intensidade que a noite reservava.