Texto e fotos: Fabricio Mazocco
Quando escreveu o livro “BRock – O rock brasileiro dos anos 80”, publicado pela Editora 34, Arthur Dapieve dividiu as bandas, basicamente, em três grupos: a elite, a segundona e as divisões de base. Naquele momento, o Ira! abriu a seleção da segunda divisão. Acredito que já naquele tempo e até hoje, mais de 20 anos depois da publicação da primeira edição, em 1995, o Ira! devesse estar na primeira divisão do rock nacional, com muitos méritos.
Foi no início da década de 80 que Marcos Valadão, de alcunha Nasi, convidou o então recruta Edgard Scandurra, colega do colégio Bráulio Machado, na Vila Maria, na capital paulista, a ir a um show na PUC. Desse encontro nasceu o Ira (ainda sem o !), nome baseado no grupo terrorista Irish Republican Army (IRA). De lá para cá se passaram 40 anos, com muitos sucessos, amizade, companheiros de banda, brigas, separação, volta e mais sucessos. São 16 álbuns, sendo um compacto, 12 de estúdio e três ao vivo.
E esses 40 anos estão sendo muito bem comemorados com uma tour que celebra a data. Junto com Evaristo Pádua na bateria e Johnny Boy no baixo, o núcleo que formou o Ira!, leia-se Nasi e Scandurra, estiveram no último sábado (16/7) no São Carlos Cube, em São Carlos (SP) comemorando o Dia Mundial do Rock (13 de julho) e os 40 anos do Ira!.
Depois do anúncio da banda pelo produtor da banda, o Pelicano (o gigante mais doce que conheci!), o Ira! subiu ao palco com “Longe de Tudo”, música que abre o primeiro álbum da banda, o “Mudança de Comportamento” (1985). Já que é pra arrebentar logo no início, então que venha “Dias de Luta”, do álbum “Vivendo e Não Aprendendo” (1986). Hora de Nasi falar dos 40 anos da banda e alegria de estar no palco dando uma “passada” pela discografia da banda. Em seguida, a “Flerte Fatal”, a inédita que entrou no “Acústico MTV do Ira!” (2004) e “Pra Ficar Comigo”, uma versão de “Train In Vain (Stand By Me)“, do The Clash, uma das principais influências do grupo, e que abre o mesmo álbum Acústico.
Nasi fala do último disco da banda, o “IRA” (2020), gravado no meio da pandemia, e que não teve tour (por questões óbvias, né?!) e entra a linda canção “O Amor Também Faz Errar”. Continuando o set list: “Vida Passageira”, do álbum “MTV ao Vivo” (2000); “Mudança de Comportamento”, do disco homônimo de 1985; “Tarde Vazia”, do trabalho “Clandestino” (1990); e “Flores em Você”, do “Vivendo e Não Aprendendo” (1986). Outra do último álbum, a “Efeito Dominó”, que na gravação conta com a participação especial de Virginie Boutaud, ex-vocalista da banda Metrô. Nasi fala do “Psicoacústica” (1988), que para ele (e eu concordo) foi um álbum não compreendido, que hoje está entre os mais cultuados da banda e toca “Rubro Zorro”. E segue com “Gritos na Multidão”, do compacto de 1984; “Entre Seus Rins”, do álbum homônimo de 2001; “Eu Quero Sempre Mais” e “O Girassol” – com Scandurra cantando como na gravação original – ambas do álbum “7” (1995); “Envelheço na Cidade”, do disco “Vivendo e Não Aprendendo (1986); e encerra a primeira parte com “Núcleo Base”, do “Mudança de Comportamento” (1986).
No bis, “Respostas”, do álbum “IRA (2020); “Bebendo Vinho”, de autoria de Wander Wildner, ex-vocalista da banda gaúcha Replicantes e que o Ira! regravou no disco “Isso é Amor” (1999); e o show se encerrou com “O Bom e Velho Rock ‘n Roll”, do álbum “Entre Seus Rins” (2001).
Assim se foram quase 40 anos em mais de uma hora e meia de show. Não dá para negar que a vontade seria ficar mais uma hora e meia, ou quem sabe muito mais, mas ainda tem muita Ira! pela frente.