Depois do super sucesso do álbum “Dois”, da Legião Urbana, lançado em 1986, era hora da banda lançar um novo álbum em 1987. Pressão do sucesso, expectativa e mais alguns fatores fez com que a banda decidisse por aproveitar canções antigas, a grande maioria de autoria somente do Renato Russo e compostas na época do Aborto Elétrico e do Trovador Solitário, como “Que País é Este”, “Conexão Amazônia”, “Eduardo e Mônica”, e outras. Mas no final entraram duas compostas para este álbum, “Angra do Reis”, de Russo, Bonfá e Renato Rocha, e “Mais do Mesmo”, de Russo, Bonfá, Rocha e Dado. E é o próprio Dado Villa-Lobos, no livro “Memórias de Um Legionário” (Ed. Mauad), escrito em parceria com Felipe Demier e Rômulo Mattos, que conta uma história bem interessante envolvendo a “Angra dos Reis”.
Parte (a maioria, pode-se dizer) das músicas da Legião primeiro é gravada a música para depois Renato por a letra. No caso de “Angra” não foi diferente. Gravados todos os instrumentos, o produtor-mor da Legião, Mayrton Bahia perguntou para Renato Russo da letra daquela música. Renato disse que não faria letra. Começou uma discussão no estúdio que se encerrou com Mayrton ameaçando não terminar o disco se aquela música não tivesse letra e Renato saindo furioso, batendo porta. Conseguem imaginar o clima?
No outro dia chega Renato Russo com um pedaço de papel cheio de frases. Ele dá para Mayrton e diz: “Aqui está a letra”. Assim nasceu “Angra dos Reis”. E a informação que consta é que Mayrton ainda guarda até hoje esse papel, que traz não só uma história como uma das letras mais lindas do nosso Rock 80 Brasil.