Diferente da Bossa Nova, o nosso Rock 80 Brasil nunca foi tão… tipo… calminho. Se olharmos as páginas e páginas do nosso rock veremos algumas (e não tão poucas) confusões. Elas aconteceram entre os integrantes de um mesmo grupo, entre grupo e até entre grupos e a crítica. Isso mesmo.
No dia 28 de outubro o jornalista da Folha de S.Paulo Pepe Escobar publicou um artigo criticando o rock paulista e que não agradou nada nada os rock-punkeiros de São Paulo. A crítica foi feita com base em uma carta escrita por Guilherme Isnard, do grupo Zero, falando sobre isso.
Então no dia 29 de outubro, representantes de doze grupos paulistas se reuniram e foram até a sede do jornal para com o intuito de desautorizar o crítico a falar sobre eles. E aí o clima pesou e Nasi, do Ira! partiu para cima do crítico, mas os colegas o seguraram. No dia seguinte, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria sobre o fato, que transcrevemos a seguir:
Rock Paulista Gera Polêmica e Futuro Debate na Folha
Folha de São Paulo
30 – outubro – 1984 (terça-feira)
Ilustrada
30 – outubro – 1984 (terça-feira)
Ilustrada
Reportagem local
Representantes de doze bandas de rock – entre elas “Garotas do Centro”, “Voluntários da Pátria”, “Ira”, “Inocentes” e “Metrópolis” – estiveram na redação da “FOLHA”, no final da tarde de ontem (29/10/1984), com o objetivo de manifestar seu desagrado aos artigos do jornalista Pepe Escobar na “Ilustrada”. Motivados pelo texto “Desventuras do rock paulistano” (Ilustrada, 28.10.84), solicitaram uma discussão mais ampla da questão, com a presença do jornalista, suspensa (sic), entretanto, devido a momentânea exaltação dos queixosos. Ânimo exaltado, o vocalista do “Ira”, Marcos Valadão (o ‘Nazi’), tentou partir para a agressão física, contida pelos seus companheiros. Assim que começou o tumulto, agentes de segurança do jornal se aproximaram mas não foi necessária sua intervenção.
Os artistas sentem-se atingidos em sua profissão, considerando que Pepe Escobar “não se interessa em entrevistar e ver de perto o trabalho das bandas, escrevendo de ‘orelhada’ e incitando fofocas no meio, conforme disse Miguel Barella, da “Voluntários da Pátria”. Por isso, enquanto profissionais, “viemos em conjunto desautorizar o Pepe Escobar a escrever sobre elas. Não estamos contra a Folha e sim contra um crítico incompetente”, sintetizou Marcos Mocef, produtor da Mundo Moderno, responsável pelo projeto (em andamento) de apresentação dos grupos no bar “Val Improviso”.
Convidados a colocarem suas reclamações com tranqüilidade, um grupo de sete pessoas (das bandas “Mercenárias”, “25 Segundos Depois”, “Smack” e “Voluntários da Pátria”, e do Mundo Moderno) esclareceu que o descontentamento, quanto às críticas, vem da postura do jornalista: “Ele louva as bandas estrangeiras, independentes como nós, e impede que a semente brasileira cresça. Se Pepe é crítico de rock estrangeiro deve se limitar a isso; ou então que vá conhecer o trabalho desenvolvido aqui para depois falar”, disse Miguel. Segundo Neusa Vidolini, da “25 Segundos Depois”, o jornal pode falar o que quiser, bem ou mal, “desde que se tenha conhecimento de causa. Senão o conjunto das pessoas focadas desautorizam o trabalho, mesmo que a Folha continue apoiando essa pessoa”.
Ainda segundo esses representantes, Pepe agiu mal quando utilizou trechos da carta do vocalista do “Zero”, Guilherme Isnard (onde discutia a mecânica de programação do rock na cidade) no texto publicado no domingo último. “Ele quis incitar polêmica e fofoca no meio”, disse Miguel. O crítico afirmou que simplesmente tomou parte do texto enviado à Folha para denunciar “um estados de coisas”. Quanto às denúncias afirmou já ter ouvido a maioria das bandas ao vivo, constatando que a maioria, musicalmente, é muito ruim.
“Já citei uma série de grupos, que inclusive não vieram aqui Magazine, Ultraje à Rigor, Voluntários da Pátria, Zero, RPM, todos paulistas, em vários textos. Quando a produção é boa, sai publicado. O critério é óbvio. Mas se o trabalho é primitivo, isso tem que ser levado a público. Esse episódio é lamentável: fruto da posição fechada de um grupo que não aceita crítica e parte para agressão, ao invés de argumentar. Nos países civilizados, a imprensa não precisa andar armada para se defender dos criticados. Aqui pelo visto ainda impera a dialética do ??? (palavra apagada no texto original). Quanto a sugestão de que “escrevesse apenas sobre rock inglês”, disse que não exerce na “Ilustrada” a função de crítico de rock brasileiro e sim escreve sobre vários assuntos.
Atendendo a ansiedade dos músicos, a Folha se dispôs a organizar (em data a ser marcada nos próximos dias) um debate em seu auditório, ao qual compareceriam tanto representantes das bandas, quanto críticos e especialistas convidados, público, e também o jornalista Pepe Escobar. O assunto deverá ser a produção musical do gênero, suas dificuldades e o papel da crítica. Pepe acha essa decisão algo positiva. “Quero discutir a competência artística, e não a paranóia de membros dos grupos”.
Viva o nosso Rock Brasil!