Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii e Pouca Vogal) já está na estrada para não só mostrar seu novo disco solo, o “Insular’ que está para sair do forno, mas também para dar uma passada em todos os discos de sua carreira, seja nos Engenheiros, no Gessinger Trio, Pouca Vogal e agora, simplesmente, Humberto Gessinger. Este blogueiro que vos escreve fez uma entrevista com Gessinger, que toca neste sábado (17/08) em São José do Rio Preto, interior paulista. A entrevista foi feita para o jornal Diário da Região, de Rio preto, que publicou a matéria hoje. Na entrevista falamos do novo disco, novo livro, formato trio e mais um punhado de coisa. É só conferir abaixo ou no site do Diário:
Foi no dia 28 de setembro de 1990 que o grupo gaúcho Engenheiros do Hawaii tocou pela primeira vez em Rio Preto. Na época, o Brasil passava por uma crise na classe política com o então presidente Collor gritando na TV, a inflação mostrava que estava mais viva do que nunca e o papa (João Paulo 2º) estava cada dia mais pop.Opa! Estamos dando voltas? “É preciso lembrar que a história só se repete como farsa. O ponteiro do relógio até pode passar sempre pelo mesmo número, mas será sempre em outro tempo”, filosofa Humberto Gessinger, o engenheiro chefe dos Engenheiros do Hawaii, em entrevista para o Diário.
Gessinger estará em Rio Preto neste sábado e encerra a primeira noite do Rio Preto Rock Festival, que acontece neste fim de semana, na Arena Show Music.Humberto, aquele amado e odiado no rock brasileiro, está agora em carreira solo. Não muito diferente do que vinha acontecendo em razão das constantes mudanças de formação dos Engenheiros. Ele está lançando um novo disco, o “Insular”.
Tem mais: também está para chegar nas livrarias seu quinto livro, “Seis Segundos de Atenção” (Editora Belas Letras). Gessinger estará no palco hoje acompanhado pelo baterista Rafael Bisogno e pelo guitarrista Rodrigo Tavares, no formato power trio que tanto gosta, apresentando os clássicos de sua carreira, um set acústico e inéditas. Na entrevista, ele fala sobre seu novo álbum e também do livro, da turnê e o atual momento do rock brasileiro.
Diário da Região – Os Engenheiros do Hawaii tocaram pela primeira vez em Rio Preto em 1990, lançando “O Papa é Pop”. Na época, havia uma crise de confiança na classe política, volta da inflação e um papa pop. Como você diz em uma de suas canções, “voltamos enfim ao início, quando se anda em círculos nunca se é bastante rápido”?
Humberto Gessinger – Bem sacado, mas é necessário lembrar, sempre, que a história só se repete como farsa. O ponteiro do relógio até pode passar sempre pelo mesmo número, mas será sempre em outro tempo. Na época do disco “O Papa é Pop” era dominante a onda neoliberal e as ideias de Fukuyama (Yoshihiro Francis Fukuyama) de que depois da Guerra Fria chegaríamos ao “fim da história” , não haveria mais disputas ideológicas. Parece piada hoje em dia.
Diário – No show que você apresenta neste sábado o set list passa por todos os discos da sua carreira. Como é fazer a seleção entre tantas canções?
Gessinger – Elas vão se escolhendo. Só tenho que ficar mais atento ao que soa melhor, ao que é mais relevante no momento. A única limitação que me impus foi espalhar o repertório pelo tempo, dar uma geral na minha carreira.
Diário – O Rio Preto Rock Festival reúne bandas covers e autorais. Como você vê o cenário do rock brasileiro atualmente?
Gessinger – Se a gente procurar e peneirar, acha muita coisa boa. Não sou saudosista. Pelo contrário, sou mais generoso ouvindo artistas novos do que consagrados. A molecada anda meio perdida no meio de tanta informação. Nos anos 80, a gente tinha uma personalidade e buscava os meios para expressá-la. Hoje, parece que rola o contrário: os meios são abundantes, mas os caras parecem estar buscando a própria personalidade.
Diário – Você está lançando um novo disco e um novo livro. Como é trabalhar com duas plataformas diferentes?
Gessinger – Elas se complementam. Sou uma pessoa só. Não há uma chave seletora que a gente aciona e vira escritor ou músico. Cada meio tem suas especificidades, mas o ritmo é muito importante para meu texto e a palavra é muito importante para o meu som.
Diário – O disco não tem o selo de uma grande gravadora. Mesmo assim, uma das músicas, “Tudo está parado”, está tocando nas rádios e esteve em primeiro lugar nas vendas do iTunes. O artista está livre das grandes corporações em sua arte/ofício?
Gessinger – É um mundo que está se formando. As coisas ainda não estão definidas e não sei se um dia estarão ou se daqui para frente vagaremos para sempre na impermanência. O importante é que o artista exerça sua liberdade, acredite nela. Os piores limites são aqueles que nós nos impomos.
Diário – O título do novo livro (“Seis segundos de atenção”) é um trecho de uma de suas músicas, assim como os outros livros. Havia um escritor “adormecido” esperando a hora para aparecer?
Gessinger – A palavra escrita pintou antes do que a palavra cantada na minha vida. Escrevo há mais tempo do que canto. Claro que a percepção do mundo exterior, pelo sucesso anterior da minha música, é outra. O uso destes trechos nos livros é para sublinhar o caráter pessoal do meu texto: é sempre em primeira pessoa, ainda não ficcional.
Diário – Na pré-turnê solo você está no formato trio, que marcou a história dos Engenheiros do Hawaii. Este é o formato que mais lhe agrada no palco?
Gessinger – É onde me sinto mais à vontade. É uma pena que seja cada vez mais raro. A tendência parece ser a busca, ao vivo, de um som menos “arriscado”. Mas nada supera a agilidade e sinceridade de um trio.
Fabricio Mazocco é jornalista e criador do blog Rock 80 Brasil (rock80brasil.blogspot.com)
Ótima entrevista.