/A Alucinação na voz de Gessinger

A Alucinação na voz de Gessinger

O disco “Minuano” (1997), dos Engenheiros do Hawaii é o primeiro álbum dos Engenheiros do Hawaii pós saída Carlos Maltz (em 1996 Humberto lançou Gessinger Trio). No Minuano estão, além de Humberto Gessinger, Adal Fonseca, Luciano Granja e Lúcio Dorfman.
Entre as músicas do disco está “Alucinação”, de Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, conhecido simplesmente como Belchior. Esta foi a terceira regravação feita pelo grupo. Antes vieram “Era um garoto…” (1990) e “Herdeiro da Pampa Pobre” (1991).
“Alucinação” foi gravada originalmente por Belchior em 1976 e está no álbum homônimo. Neste álbum, o segundo do cantor, estão grandes clássicos como “Apenas um rapaz latino americano” (já utilizado por Gessinger como música incidental em shows), “Como nossos pais”, “A palo seco”, entre outras.
Natanel Gabriel da Silva, no estudo “Profecia, existência e Teologia da Cultura na poética de Belchior”, fala sobre a música. Segue o trecho:
 
“Em ‘Alucinação’, Belchior afirma não estar interessado em nenhuma teoria, nenhuma fantasia, ou mística oriental, mas a alucinação é o suportar o dia a dia no delírio com coisas reais. No caso, coisas reais são as condições de existência, o que é dado, o ser lançado, se optarmos por Heidegger, ser-no-mundo, em busca de sentido. Seguindo os versos da canção, Belchior se envereda por esta condição de existência e faz um relato do cotidiano do preconceito, sonhos e limites: o preto (raça-preconceito), o pobre (capital-trabalho), estudantes (conhecimento e sonho), mulheres sozinhas (existência e angústia), blue jeans e motocicletas (alienação e fuga), pessoas cinzas, normais (vida e desaparecimento), garotas dentro da noite (opressão e desumanidade), revólver: cheira cachorro (morte e animalidade), humilhados do parque com os seus jornais (presença e esquecimento, informação/desinformação e reaproveitamento de texto), carneiros, mesa, trabalho (submissão e produtividade), meu corpo que cai do oitavo andar (vida-morte, existência e desintegração, liberdade e fim) e a solidão das pessoas dessas capitais (existência e ameaça), a violência da noite, o movimento do tráfego (dinâmica da vida e impessoalidade), um rapaz delicado e alegre que canta e requebra, é demais!… (gênero e preconceito). Pouco adiante, doze jovens coloridos, expressão clara e irônica à tradição cristã, e com eles dois policiais, símbolo da opressão e ameaça à vida. Ao contrário da visão profética da Laranja Mecânica, anunciando o terror, o amor é dado como resposta e possibilidade de mudança. Todos os personagens constituem a vida, com as suas ameaças, preconceitos e contradições. Não há teoria que dê conta de explicar isso. Para Belchior, pelo menos em “Alucinação”, a existência é trágica, o limite é o cotidiano, e a esperança é o amor.”
A twitcam do álbum “Minuano”, tocado pelo Humberto Gessinger (Pouca Vogal, Engenheiros do Hawaii) foi cancelado do dia 11/10. Foi remarcada para o dia:14/10/12, ás 21h. Não perca!

Fabricio Mazocco é jornalista, doutor em Ciência Política, professor universitário, fã de rock e criador do blog Rock 80 Brasil.