/Entrevista: Thedy Corrêa, do Nenhum de Nós

Entrevista: Thedy Corrêa, do Nenhum de Nós

O Nenhum de Nós tem seus 25 anos marcados principalmente pela união dos integrantes da banda e da ligação com o público, que vê nas letras das músicas uma realidade próxima. Esses foram alguns dos assuntos abordados pelo cantor, compositor e vocalista da banda Nenhum de Nós, Thedy Corrêa, em uma entrevista feita pela nossa super colaboradora Ellen Rodrigues Visitário (Twitter: @EllenRodrigues_) especialmente para o blog Rock 80 Brasil. Confira a entrevista abaixo!
Há muitos sentimentos que em suas canções são transmitidas aos fãs da banda Nenhum de Nós, desde canções que falam de amores perdidos, ou até mesmo outras canções que citam que não devemos perder tempo. Para você, como é lidar com essas sensações, aonde os fãs, se identificam?
Thedy Corrêa: A ligação de um fã com um artista pode se dar por vários fatores. Alguns é a beleza (não é o meu caso…rsrs), outros o figurino, ou a postura no palco – sexy ou agressiva – e outros ainda pelo conteúdo das letras. Sempre busquei que nossos fãs se identificassem pelo último fator. Creio que eles enxergam uma ligação íntima entre as coisas que dizemos e a vida que levam, com seus dramas e dificuldades. Fico profundamente emocionado quando vejo, nos shows, pessoas cantando nossas músicas de olhos fechados, transbordando de emoção e colocando nossas palavras em suas vozes como se tivessem sido escritas por elas próprias. NADA pode ser mais legal que isso para uma banda. Nada mesmo!
Me causa estranheza em bandas que se dizem “próximas” dos seus fãs mas não fazem nenhuma questão do contato olho no olho. Não recebem as pessoas nos camarins depois dos shows e são os “reis” da internet (onde não há o lance da pele&olho). Não sei como os fãs não percebem a distância entre o trabalho e a realidade. Para o Nenhum, esse carinho e o retorno dos fãs é fundamental. Fico triste quando por, algum motivo, não podemos conversar com os fãs no pós-show. Nesse momento eles falam, olham no olho, abraçam e nos devolvem um carinho precioso. Nas conversas posso ouvir histórias fantásticas dessa identificação deles com nossas canções. Isso não tem preço!!!
Mais de 20 anos de Nenhum de Nós, e a banda continua sendo valorizada e admirada pelos fãs, por tantas gerações. Qual é a receita dessa mistura de amor pela música e amizade com os integrantes?
Thedy: A receita é a fé no trabalho. Nós cinco temos muita convicção no trabalho da banda. Sabemos o quanto é difícil manter uma banda no Brasil sem que se “vender”, pagar jabá ou correr atrás de modinhas e tal. Muito da admiração de nossos fãs vem daí. Eles percebem isso. Somos cinco caras a frente de uma banda há 25 anos e isso tem enorme significado. Não ficamos trocando de integrantes por ego ou porque alguém seria o “dono” ou o “patrão” na banda. Isso não é uma banda. O Nenhum é um exército sem general. A amizade pode ter seus altos e baixos, mas a fé no trabalho da banda está sempre em alta!
Tantos anos na estrada com a banda Nenhum de Nós, como você poderia resumir/definir a sua carreira? E nesses 25 anos de banda, qual momento, em especial, te marcou?
Thedy: Difícil definir… Penso que é uma construção baseada em honestidade de sentimentos, um estímulo constante à reflexão e o espírito do rock que gerou ídolos como Dylan, Beatles, Legião, REM… Ou seja, música com conteúdo acima de tudo. Muitos momentos me marcaram demais… Ter ganho o VMB de 1992 foi uma demonstração da força de nossa música. Nunca pertencemos à panelinhas. Nunca puxamos o saco de programador de rádio (e isso nos custa um preço alto, já que alguns sobrevivem disso e do jabá). Nunca mudamos nosso estilo pra agradar algum diretor de tv ou da própria MTV. Naquele momento ficou claro que nossa conexão era com o público e nada mais!
Quais são as expectativas com a turnê do álbum ”Contos de Água E Fogo”? Tem vontade de tocar fora do país, ou prefere manter ”os pés no chão”?
Thedy: Fora do país para nós significa América Latina. Talvez Portugal. Fora disso, é turismo ou show para brasileiro que vive no exterior (que não é uma coisa ruim de se fazer). Mas não temos uma ilusão de ter uma “carreira” no exterior fora desses parâmetros. Já tocamos no Uruguai e temos muita vontade de entrar no mercado argentino. Sempre com os pés no chão…rsrs
Thedy, o que você poderia dizer para as bandas que estão iniciando agora? Mesmo com a www na ativa, não é fácil ”encarar” a mídia com os elogios e as críticas. 
Thedy: Acho que a receita é a mesma que usamos para nós mesmos: a fé no trabalho. Acreditar que aquilo que fazem é relevante e tem qualidade. Os canais estão aí. Alguns já foram mais receptivos, como as rádios, mas a internet é uma baita ajuda nisso. Críticas e elogios fazem parte, mas não se pode mudar o rumo por conta delas. E, sempre recomendo LER muito. Ler sobre música, poesia, história de grandes artistas…. TUDO! Não existe uma boa banda sem uma formação sólida por trás, e isso significa LER, LER, LER!!!
Em relação ao futebol, você se sente ”influenciador” aos admiradores da banda,  por ser um colorado assumido, assim como todos os integrantes da banda?
Thedy: Procuro usar isso da melhor forma. Tenho um blog (www.clicrbs.com.br/bloggigante) onde proponho debates sempre em alto nível. Nunca ofendo ninguém ou outro time. Se alguém diz que vai deixar de ouvir o Nenhum por conta de minha preferência/atuação com o Internacional eu não me importo. Se essa pessoa gostava do Nenhum antes de saber disso e agora tem esse tipo de raciocínio, com certeza gostava da banda pelos motivos errados. Não fará falta. Não quero uma pessoa com esse tipo de visão doentia no meio de nosso público. Música é uma coisa e preferência futebolística é outra. Eu estimulo o bom debate. Quem quer briga tem que procurar outro blog….hehe.

Fabricio Mazocco é jornalista, doutor em Ciência Política, professor universitário, fã de rock e criador do blog Rock 80 Brasil.